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quarta-feira, 12 de setembro de 2012

GOIABA-DE-ANTA, FRUTEIRA TÍPICA DE VEGETAÇÃO SECUNDÁRIA
Esta fruteira produz frutos comestíveis, porém desperdiçados, contudo, podem ser encontrados com boa frequência e abundância nas florestas de capoeiras, bordas das florestas e, margens de estradas e ramais espalhados pela Amazônia.

Afonso Rabelo-Engenheiro Florestal
rabeloafonso@gmail.com

NOMENCLATURA DA ESPÉCIE

Nome científico – Bellucia dichotoma Cogn.
Sinonímia – Bellucia imperialis Saldanha & Cogn.
Família – Melastomataceae Juss.
Nomes comuns na Amazônia – Araçá-de-anta, goiaba-de-anta (nome vulgar mais conhecido), e goiaba-de-anta-branca.
Origem – Amazônia
Distribuição – Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia e Roraima.

CARACTERÍSTICAS BOTÂNICAS

ÁRVORE – A goiabeira-de-anta é uma planta heliófita (que precisa de muita luz para cresce) e pioneira de vegetação secundária. As plantas de goiaba-de-anta possuem porte médio, podendo atingir até 10m de altura. O caule é roliço e ereto, porém curto em áreas descampadas e com presença de pequenas sapopemas na base. O ritidoma (casca) possui coloração castanho-clara com textura áspera e fissurada. A copa da árvore é ampla, muito ramificada e as folhagens são abundantes e perenifólias. Na Amazônia, pode ser encontrada em florestas de capoeiras que foram originadas após a supressão das árvores da floresta primária, ou em florestas de bordas, pastagens abandonadas e, margens de estradas e ramais. Os frutos da goiaba-de-anta são comestíveis e muitos abundantes em florestas de capoeiras, no entanto, são desprezados pelas populações, talvez por falta de conhecimento do potencial alimentício. Todavia, esses frutos são bastantes consumidos por animais silvestres, tais como: antas, macacos, jabutis, aves e morcegos (Figuras 1 e 2).
 Figura 1. Hábito de crescimento da goiabeira-de-anta (Bellucia dichotoma Cogn.) em pastagens abandonadas.

 Figura 2. Hábito de crescimento da goiabeira-de-anta (Bellucia dichotoma Cogn.) em floresta de capoeira.

FOLHAS – São simples, disposições opostas, grandes, coloração verde-brilhante na superfície superior e verde-opaco na inferior; lâmina foliar apresenta forma ovada a oval, ápice agudo, base arredondada, margem inteira e nervuras proeminentes na superfície inferior da folha (Figuras 3 e 4).
Figura 3. Detalhe do ramo com folhas opostas da goiabeira-de-anta (Bellucia dichotoma Cogn.).

 Figura 4. Face inferior da folha da goiabeira-de-anta (Bellucia dichotoma Cogn.).

INFLORESCÊNCIAS – São ramifloras, ou seja, formadas no caule ou nos ramos da planta. As flores são agrupadas nas inflorescências e cada uma delas consiste em um receptáculo de coloração verde em forma de xícara, o qual é responsável pela sustentação dos pequenos lobos do cálice, das 6 pétalas brancas da corola, dos 12 estames e do pistilo. A antese das flores ocorre distintamente na árvore, resultando em inflorescências com flores polinizadas, flores abertas e botões florais simultaneamente (Figura 5).

 Figura 5. Detalhe da flor na antese da goiabeira-de-anta (Bellucia dichotoma Cogn.).

FRUTOS - São bagas globosas, sem aroma, medindo em média 2,8cm de comprimento por 3,3cm de diâmetro. O epicarpo (casca) possui superfície lisa, textura fina e coloração amarelo-claro quando maduro. O mesocarpo (polpa), com rendimento de ±80% do total do fruto é suculento, sabor levemente adocicado e muito perecível. Os frutos de goiaba-de-anta são produzidos continuamente durante o ano todo pelas plantas adultas e o consumo é basicamente na forma in natura, no entanto, pode ser utilizado para preparação de doces (Figuras 6, 7 e 8).

 Figura 6. Detalhe da frutificação ramiflora da goiabeira-de-anta (Bellucia dichotoma Cogn.).

 Figura 7. Frutos maduros da goiabeira-de-anta (Bellucia dichotoma Cogn.).

 Figura 8. Frutos inteiros e descerrados na forma longitudinal e transversal da goiabeira-de-anta (Bellucia dichotoma Cogn.).

MOELA DE MUTUM (Lacunaria jenmanii (Oliv.) Ducke)


MOELA DE MUTUM, FRUTEIRA DESCONHECIDA NATIVA DA AMAZÔNIA

Embora desconhecida, a fruteira produz frutos deliciosos que podem ser consumidos na forma in natura.

Afonso Rabelo-Engenheiro Florestal
rabeloafonso@gmail.com

NOMENCLATURA DA ESPÉCIE
Nome científico Lacunaria jenmanii (Oliv.) Ducke
Sinonímias – Lacunaria grandiflora Ducke, Lacunaria silvatica A.C. Sm., Quiina silvatica Pulle, Touroulia jenmanii Oliv.
Família – Ochnaceae DC.
Nome comum na Amazônia – Moela de mutum.
Origem – Amazônia.          
Distribuição – Acre, Amapá, Amazonas, Pará e Roraima.

CARACTERÍSTICAS BOTÂNICAS


ÁRVORE – A moela-de-mutumzeiro é uma fruteira dioica, isto é, possui plantas com apenas flores masculinas e plantas com apenas flores femininas. Tadavia, é uma planta de porte médio e quando adulta pode atingir até 15 metros de altura. Possui caule ereto, roliço, sendo alongado em florestas fechadas e, curto em áreas abertas e sob insolaçao intensa. O ritidoma (casca) possui textura áspera e coloração escura com manchas esbranquiçadas na superfície externa e coloração avermelhada e sem resina na porção interna. A copa da árvore é muito ramificada e as folhagens são abundantes e perenes. A moela-de-mutumzeiro é uma fruteira silvestre e nativa da Amazônia, a qual pode ser encontrada em floresta primária de terra firme, notadamente nos ecossistemas de platô e sob solos argilosos e bem drenados ou sobre alguns remanescentes florestais preservados dentro de áreas urbanas, sobretudo na cidade de Manaus-AM. Todavia, apresenta potencial para ser cultivada para produção de frutos em sistemas agroflorestais e sítios ou como planta ornamental para parques botânicos. A propagação é feita por sementes e o principal dispersor natural  dessa fruteíra são os primatas. (Figuras 1 e 2).


 Figura 1- Hábito de crescimento do espécime feminina de moela de mutum (Lacunaria jenmanii (Oliv.) Ducke) no Bosque da Ciência do INPA.

 Figura 2- Hábito de crescimento do espécime masculino de moela de mutum (Lacunaria jenmanii (Oliv.) Ducke) como planta ornamental.


FOLHAS – São simples, glabras, grandes, firmes, pecioladas e com estípulas presentes, todavia são verticiladas, isto é, formadas a partir de um único nó, no caso da moela-de-mutumzeiro, as folhas são distribuídas nos ramos em agrupamentos de 3 até 6 folhas. O pecíolo é alongado, roliço e com coloração marrom. As folhas quando adultas possuem coloração verde-escura na superfície superior e verde-clara e opaca na inferior, todavia as folhas jovens estampam coloração rósea, no entanto, em ambos casos, as nervuras são vistosas nas faces superiores e proeminentes nas inferiores. A lâmina foliar possui forma elíptica a obelíptica, ápice acuminado ou agudo, base cuneada, margem crenadas (Figuras 3 e 4).

 Figura 3 - Detalhe da distribuição das folhas ao longo do ramo da moela de mutum (Lacunaria jenmanii (Oliv.) Ducke).

 Figura 4 - Detalhe das folhas.


INFLORESCÊNCIAS – São unissexuais, isto é, com flores estaminadas (masculinas) ou pistiladas (femininas) separadas em plantas diferentes, dessa forma, são inflorescências dioicas. Entretanto, são formadas nas axilas das folhas e apresentam formas paniculadas nas inflorescências estaminadas e racemosas nas pistiladas. As inflorescências estaminadas possuem maior número de flores em relação às inflorescências pistiladas e a antese acontece progressivamente da base para a extremidade, por essa razão, ocorrem flores abertas e botões florais simultaneamente na mesma inflorescência. Todavia, as flores estaminadas são pequenas, conferindo a elas 4 sépalas de coloração verde-clara, sendo duas pequenas e duas grandes, 6 pétalas de coloração branca e vários estames. As flores pistiladas possuem pedúnculo alongado e são maiores que as estaminadas, no entanto são formadas por 4 sépalas de coloração verde-clara e, por 6 pétalas amarelo-claro e 6 até 10 estiletes (Figuras 5 e 6)

 Figura 5 - Inflorescência estaminada (masculina) da moela de mutum (Lacunaria jenmanii (Oliv.) Ducke).

 Figura 6 - Inflorescência pistilada (feminina) da moela de mutum (Lacunaria jenmanii (Oliv.) Ducke).


FRUTOS - São bagas com forma cilíndricas e constituídas por 9 até 11 lóculos. Estes frutos não possuem aroma e medem em média 7,5cm de comprimento por 5cm de diâmetro. O epicarpo (casca) possui superfície rugosa e estriada longitudinalmente, porém com textura grossa, consistência rígida e coloração marrom-clara quando maduro. O mesocarpo (polpa), e o endocarpo são carnosos, no entanto não são comestíveis. No interior dos frutos encontram-se as sementes, as quais são envolvidas por um arilo comestível e com rendimento de ±20% do peso total do fruto, conferindo a ele coloração branca, textura gelatinosa-suculenta e sabor adocicado, porém acidífero. O consumo é basicamente na forma in natura, no entanto, é muito importante na dieta de animais silvestres (Figuras 7 e 8).

 Figura 7 - Frutos maduros da moela de mutum (Lacunaria jenmanii (Oliv.) Ducke).

 Figura 8 - Frutos inteiros e descerrados na forma longitudinal e transversal da moela de mutum (Lacunaria jenmanii (Oliv.) Ducke).


SEMENTES – Possuem os tegumentos com superfície densamente pilosa e com coloração marrom-escuro, medindo em média 1,2cm de comprimento por 0,9cm de diâmetro. O endosperma possui textura sólida, consistência rígida e coloração branca, no entanto número de sementes varia de acordo com o tamanho do fruto, dessa forma, em média, encerram-se 25 sementes (Figura 9). 

 Figura 9 - Sementes inteiras e descerradas na forma longitudinal e transversal da moela de mutum (Lacunaria jenmanii (Oliv.) Ducke).