INAJÁ, FRUTEIRA
AMAZÔNICA DE GRANDE POTENCIAL ALIMENTAR, INDUSTRIAL E PAISAGISTICO
É uma palmeira oleaginosa muito frequente e abundante
na Amazônia, porém pouco conhecida e estudada, contudo, apresenta potencial para
uso na alimentação, produção de cosméticos e energia renovável (biodiesel).
Afonso
Rabelo-Engenheiro Florestal
rabeloafonso@gmail.com
NOMENCLATURA
DA ESPÉCIE
Nome
científico – Maximiliana maripa (Aubl.) Drude
Sinonímias – Attalea venatorum (Poepp. ex Mart.) Mart., Cocos venatorum Poepp. ex Mart.), Maximiliana regia Mart., Maximiliana stenocarpa Burret, Maximiliana venatorum (Poepp. ex Mart.)
H. A. Wendland ex Kerchove, Palma maripa
Aubl.
Família
–
Arecaceae.
Nomes
vulgar – inajá.
Origem
–
Amazônia.
Distribuição – Bolívia, Colômbia,
Equador, Guianas, Peru, Suriname, Trinidad e Tobago e Venezuela. No Brasil,
ocorre nos Estados do Acre, Amazonas, região ocidental do Maranhão, norte do
Mato Grosso, Pará, Roraima, Rondônia e Norte de Tocantins.
CARACTERÍSTICAS
BOTÂNICAS
ÁRVORE – O inajazeiro
nativo da Amazônia, é uma palmeira heliófila de terra firme, monocaule, podendo
atingir até 25m de altura. Possui estipe (caule) aéreo, ereto e cilíndrico, medindo
em média 35cm de diâmetro. Este estipe é liso nas plantas adultas, e cobertos
por bainhas senescentes nas plantas jovens. Na superfície do solo próximo ao
tronco da planta é comum a presença espatas, infrutescências velhas, sementes
deterioradas e muitas plântulas.
O inajá ocorre em todo o bioma amazônico, principalmente, nos
Estados do Acre, Amazonas, região ocidental do Maranhão, norte do Mato Grosso,
Pará, Roraima, Rondônia e norte de Tocantins. Nos Estados do Amazonas, Pará e
Roraima, o inajazeiro é encontrado com grande frequência e abundância,
especialmente em florestas de capoeiras, margens de estradas, pastagens
degradadas e sobre alguns fragmentos de remanescentes florestais localizados
dentro dos centros urbanos, nesses locais a palmeira tolera solos argilosos ou
arenosos, bem drenados, úmidos ou secos. No entanto, em florestas primárias,
apresenta baixa frequência e baixa abundância, sendo encontrado normalmente em alguns
agrupamentos isolados sobre solos argilosos. Nesses ambientes são constituídos por
alguns indivíduos adultos, e grande número de plântulas e plantas jovens na
fase de crescimentos acaulescentes. Nessas florestas, quando ocorrem
desmatamentos ou queimadas para preparação de roçados ou renovações de
pastagens, tanto as plântulas, como indivíduos jovens, persistem nessas áreas,
notadamente devido ao seu meristema apical, que na fase de plântulas e de crescimento
acaulescente, permanecem abaixo do nível do solo, tolerando assim, o corte e
suportando as queimadas. Depois desta fase, ocorre crescimento acelerado desses
inajás em relação às outras plantas competidoras e, quando o processo é
repetido periodicamente, pode resultar em populações homogêneas de inajazeiros
nesses ambientes, tornando-se assim um grande obstáculo para a agropecuária.
Após o estabelecimento em florestas degradadas, os inajás produzem frutos em grande
abundância, evidentemente, por ser uma palmeira tolerante a pragas e doenças,
bem como, suportar estiagens prolongadas, solos compactados, degradados e com
baixa fertilidade. Os principais dispersores das sementes de inajás são: antas,
araras, cutias, jabutis, macacos, pacas, porco-do-mato e tucanos (Figuras 1A e
1B).
Figura 1A - Hábito de crescimento do inajá.
Figura 1B - População de inajá em pastagens degradadas.
FOLHAS - A coroa foliar é
composta por 14 a 18 folhas do tipo pindas, medindo até 10m de comprimento, e formadas por grupos
de 2 e 4 folíolos opostos ou alternos espalhados em diferentes planos e distribuídos
ao longo da raque (eixo central da folha). A bainha da folha é aberta, curta,
com até 1,20m de comprimento e o pecíolo apresenta margem cortante, podendo
alcança 3,4m de comprimento. Na coroa foliar, entre as bainhas novas e velhas,
é comum a presença de insetos (besouros), de aracnídeos (aranhas e escorpiões),
anfíbios (sapos), répteis (cobras), roedores (ratos e camundongos), marsupiais
(mucuras) e plantas como: pteridófitas e orquídeas (Figuras 2A e 2B).
Figura 2A - Detalhe da folha do inajá.
Figura 2B - Folha do inajá, retratando grupos folíolos espalhados em diferentes planos.
INFLORESCÊNCIAS – São do tipo espigada, com localização
intrafoliar, ou seja, entre as bainhas das folhas. Estas inflorescências são protegidas
por uma espata grande de superfície inferior lisa e superior sulcada, sendo de
textura rígida e pontiaguda na extremidade apical. Normalmente essas
inflorescências são monoicas, as quais apresentam flores masculinas e femininas
juntas na mesma inflorescência, sendo as femininas distribuídas na base do eixo
e as masculinas nas extremidades. Todavia, podem ocorrer inflorescências
exclusivamente estaminadas, contendo somente flores masculinas, ou apenas
pistiladas, que contém unicamente flores femininas, e raramente, todas juntas
na mesma planta. As flores estaminadas são constituídas por 3 sépalas, 3 pétalas e 6 estames e as flores
pistiladas por 3 sépalas livres, 3 pétalas ovoides e estigma trífido (Figuras
3A e 3B).
Figura 3A - Inflorescência monoica do inajá, flores femininas na base e masculinas no ápice.
Figura 3B - Detalhe da inflorescência estaminada (masculina) do inajá.
FRUTOS – Apresentam formas
ovoides ou oblongas, medindo de 4 a 5,5cm de
comprimento por 2,5 a 3,0cm de diâmetro e pesando entre 15 e 30g cada. Nas extremidades dos frutos é comum a presença estigma velho na extremidade apical e do perianto na base. O
epicarpo (casca) é fino, apresentando superfície levemente áspera, textura
fibrosa, coloração marrom-ferrugíneo e pequena porção esbranquiçada extensão do
ápice do fruto. O mesocarpo (polpa) possui rendimento de ±30% do total do fruto,
apresenta coloração amarelo-claro e aroma forte, semelhante ao óleo de coco (Cocos nucifera L.). Este mesocarpo é constituído
por uma camada pastosa-oleosa revestida por fibras, e dele pode ser extraído
até 35% de rendimento em óleo. É comestível na forma in natura ou cozido, e o sabor é levemente adocicado e agradável,
sendo um alimento bastante calórico e rico em fósforo, magnésio, proteínas e
ácidos graxos essenciais, no entanto, algumas variedades podem apresentar
sabores travosos e repugnantes. Além do potencial alimentar, o óleo extraído do
mesocarpo (polpa), apresenta potencial para uso na culinária caseira, produção
de cosméticos e bioenergia (Figuras 4A, 4B, 4C e 4D).
Figura 4A - Detalhe das infrutescências do inajá.
Figura 4B - Detalhe da infrutescência do inajá.
SEMENTES – Possuem o endocarpo
duro, consistência lenhosa e 3 poros na região apical, sendo um germinativo. O endocarpo
é constituído por superfície lisa, brilhante e, coloração marrom. No interior
do endocarpo encontra-se as sementes (amêndoas) com tegumento
fino, estriado e coloração castanho; o endosperma é abundante, possui coloração branca, textura sólida e oleosa;
o número de amêndoas por fruto varia entre 1 e 3, no entanto pode ser encontrados frutos com até 4 sementes. O rendimento em óleo das amêndoas pode atingir até 60%. Os endospermas (amêndoas) podem ser consumidos na forma in natura, e quando moídos, na alimentação de animais domésticos, contudo, óleo extraído possui
grande potencial para uso na culinária caseira, agroindústria, produção de
cosméticos e biodiesel, quando misturado ao óleo diesel. As sementes do
inajazeiro não devem ser armazenadas, pois, são recalcitrantes e bastantes
contaminadas por besouros bruquídeos. O armazenamento das sementes, podem
reduzir significativamente a taxa de germinação e promoverá o aumento da
predação das amêndoas pelas larvas dos besouros bruquídeos, todavia, as larvas
desses besouros podem ser usadas como alimento (Figura 5A).
Figura 5A - Detalhe das sementes inteiras e descerradas do inajá.
OUTROS USOS DO
INJAZEIRO – As árvores têm potencial para uso no paisagismo urbano, pois
tolera solos secos, compactados e com baixa fertilidade (Figura 6A). As folhas novas ainda
fechadas são usadas para coberturas de casas e confecções de abanos, cestas e
chapéus. As espatas das inflorescências são usadas como porta brinquedos, porta
flores, porta fruteira ou como porta ração e porta água para animais domésticos.
As sementes têm grande potencial para fabricação de biojoias tais como: anéis,
brincos, colares e pulseiras.
Figura 6A - Uso da árvore do inajá no paisagismo.
Olá,Afonso!
ResponderExcluirQuero te parabenizar pelo teu blog tão bonito e interessante. Adorei poder passear por ele e descobrir tantas belezas e sutilezas desta maravilhosa flora do Amazonas. Sou bióloga, mas moro no Rio de Janeiro, e infelizmente, ainda não tive a oportunidade de visitar esta região tão rica em biodiversidade do nosso planeta... Mas com certeza, um dia ainda estarei por aí, para passear e me encantar diante da grandeza desse admirável lugar!
Eu ainda não conhecia o "inajá", e fiquei admirada com a sua graciosidade e peculiaridades. Gosto muito de palmeiras em geral, e agora até me lembrei dos lindos buritizais que encontramos pelo caminho, quando viajávamos para Goías(meu marido é goiano)... E sinto sempre muita tristeza, quando observo a paisagem agora já tão diferente, com o desmatamento e as plantações de soja tomando o lugar precioso do nosso querido cerrado...Uma verdadeira desolação!
Entretanto, ainda tenho esperança que uma nova política ambiental venha para mudar esta situação... Quem saberá? Por isso acho mesmo muito importante divulgarmos as belezas e os encantos da nossa natureza,para que muitas pessoas possam assim se conscientizar e ajudar a mudar o rumo dessa história.
Parabéns também pelas suas fotos maravilhosas e por essa sua bela iniciativa de nos trazer tais conhecimentos e maravilhas!
Um abraço grande e muito sucesso pra ti e pra toda essa gente valorosa do Amazonas!
Teresa
(do blog "Se essa lua fosse minha")
Olá Tereza, muito obrigado pelo excelente comentário. Suas considerações me motivam cada vez mais divulgar as peculiaridades da Amazônia, e com apoio de pessoas como você, conscientizar a sociedade em geral, visando especialmente, a preservação e a conservação da variabilidade genética desse imenso manancial, para que as gerações futuras possam usufruir também dessas riquezas. Todavia, considerando as populações tradicionais por meio da integração social e econômica, respeitando sobretudo seus conhecimentos, suas tradições e costumes. A Amazônia é de todos nós. Um forte abraço para você.
ExcluirOlá, sou estudante e faço uma pesquisa sobre o inajá. Tem algum outro fruto da mesma família que é mais conhecido que o inajá?
ResponderExcluirNo usam essas e devastam p plantar dendê vá entender abaixo o dendê viva as palmeiras nacionais qvno derubam florestas
ResponderExcluirAdorei seu blog. Meu nome é Inajára.
ResponderExcluir