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terça-feira, 5 de junho de 2018

FRUTOS DO BURITI (Mauritia flexuosa L. f.), POTENCIALIDADES ECONÔMICAS, GASTRONÔMICAS E INDUSTRIAIS

*Afonso Rabelo, Maria das Dores Batista da Silva, *Felipe França Moraes e *Gláucio Belém da Silva
*Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia-CBIO/INPA – rabeloafonso@gmail.com
FORAM DESENVOLVIDOS 100 PRODUTOS E RECEITAS INÉDITAS A PARTIR DA POLPA DO BURITI
As receitas e os produtos foram desenvolvidos com objetivo de valorizar uma das espécies de palmeiras mais nobre da Amazônia, a qual possui forte valor agregado, mas que até então é muito desvalorizada e desperdiçada.

ÁRVORE DO BURITI – O buritizeiro é uma palmeira de porte alto alcançar até 30 metros de altura e natureza indivíduos masculinas que não frutificam e plantas femininas as quais produzem frutos. Apesar de predominar em áreas de solos encharcados, o buritizeiro pode ser cultivado em solos bem drenados fora do seu habitat natural, especialmente como planta ornamental em parques botânicos, praças e fachadas de prédios ou para produção de frutos. O buriti possui ampla distribuição geográfica e ocorrem em todo o bioma amazônico, no cerrado, pantanal e parte das regiões Nordeste e Sudeste do Brasil.
 Hábito de crescimento do Buritizeiro 

Frutos do Buriti

IMPORTÂNCIA - O buritizeiro é considerado uma fruteira de grande importância ecológica, econômica, nutricional, ornamental e social e, com elevado potencial para exploração extrativista e sustentada, especialmente, pelas populações tradicionais da Amazônia. A polpa do fruto do buriti possui textura pastosa, consistência oleosa, coloração amarela e rendimento de 30-35% em relação ao peso total do fruto e é considerada como um alimento antioxidante, altamente energético e rico em carboidratos, fibras alimentares, lipídios, proteínas e ß-caroteno (pró-vitamina “A”), sendo considerado uma das maiores fontes de vitamina “A” da natureza, além disso, possui ácido oleico (ômega-9), vitamina “C” e minerais como: cálcio, fósforo, potássio e ferro. Os frutos de buriti possuem forte valor agregado, mas ainda são muito desvalorizados e desperdiçados, apenas quatro produtos podem ser encontrados no comércio, são eles: Doces, picolés, sorvetes e sucos.

COLETAS DOS CACHOS DO BURITI - No cenário atual, os frutos são coletados a partir da queda espontânea debaixo das árvores, sendo considerada como uma atividade antieconômica, pois poucos frutos são coletados por vez, acarretando em perda de tempo, desgastes físicos e elevação do custo de transporte, além disso, essa atividade torna os frutos suscetíveis às contaminações por fungos e bactérias e as predações por animais silvestres. As principais razões que dificultam a exploração e desenvolvimento de novas receitas e produtos do buriti são a falta de pesquisas sobre ferramentas para coletas dos cachos, amadurecimento dos frutos pós-colheita e processamento da polpa. Todavia, para resolver esses problemas a Editora do INPA publicou em 2015 uma cartilha sobre pesquisas das potencialidades econômicas do buriti, pesquisas de pós-colheita, processamento e agregação de valor econômico aos frutos e outra sobre o desenvolvimento de ferramentas para coleta dos cachos.
 Cartilha Buriti

 Cartilha sobre ferramenta para colheitas dos cachos do Buriti

  Link do vídeo das coletas dos cachos: https://www.youtube.com/watch?v=jZdKCMVl0m8

APLICAÇÃO DOS RESULTADOS DAS PESQUISAS - Depois dessas pesquisas nós aplicamos esses conhecimentos e até o momento desenvolvemos 100 receitas e produtos inéditos oriundos da polpa do buriti. As receitas e os produtos criados possuem alto valor comercial e industrial.

PRODUTOS E RECEITAS - Os produtos e as receitas desenvolvidas foram otimizadas visando proporcionar para as pessoas maior praticidade, redução de custos, comodidade, segurança alimentar, saúde, bem-estar e melhor aroma e paladar nos pratos, sobretudo na culinária amazônica. 


Dentre os produtos desenvolvidos, destaco o TEMPERO CASCUBURI, o qual pode ser usado para preparação de caldeiradas de vários tipos de peixes amazônicos, dispensando o uso de todos os condimentos tradicionais, nesse caso, usa-se somente o tempero e a água
 Caldeirada de tucunaré no tempero cascuburi


Como substituto do TRADICIONAL TUCUPI foi produzido o TEMPERO TACABURI, que é um produto constituído por frutos de castanha-do-Brasil, cubiu, buriti e ervas amazônicas. O Tacaburi é um produto rico em propriedades medicinais, nutricionais e fibras alimentares e possui baixa acidez. A partir desse tempero pode ser preparado caldos muito aromático e com paladar muito saboroso, dessa forma pode ser utilizado nas preparações de vários pratos tradicionais da culinária amazônica, entre elas: pato, galinha-caipira, peixes (acari-bodó, pirarucu, tamuatá, tambaqui, entre outros) e costela e rabada bovina. O caldo tacaburi pode ser usado também em substituição ao tucupi na preparação do tacacá, e quanto as aspectos econômicos, um litro do tempero concentrado tacaburi rende aproximadamente 30 cuias médias do Tacaburi (tacacá sem tucupi), e se cada cuia for vendida a 15 reais, o rendimento líquido descontando o custo de produção é de 300 reais.
Link do vídeo sobre o tacaburi: http://g1.globo.com/am/amazonas/bom-dia-amazonia/videos/v/pesquisadores-desenvolvem-receita-de-tacaburi-no-am/5321132/
 Tacaburi (tacacá sem o tradicional tucupi)


Foi desenvolvido também um tempero chamado de VATABURI, o qual substitui o azeite de dendê na preparação do vatapá tradicional, no entanto com vantagem de ser mais saudável, pois a gordura da polpa do buriti é insaturada e a do dendê por sua vez é saturada e muito prejudicial à saúde.
Vataburi (vatapá sem o uso do azeite do dendê).

Para retirar o forte odor (pitiú) de peixes, frutos do mar, carnes de galinhas, patos e porcos, foi desenvolvido um tempero a base de frutos de buriti e de ervas amazônicas para dispensar o uso do limão, do sal e do vinagre. 


Para testar o aroma e paladar dos novos pratos, foram realizados vários eventos para degustação para analisar as novas receitas e para nossa surpresa todas foram aprovadas por unanimidade. 


Todavia, quanto aos aspectos nutricionais desses novos produtos, às pesquisas estão em andamento no laboratório especializado de análises físicos-químicas da Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) e outras já estão concluídas. Entretanto eu e minha equipe acreditamos que nossos temperos são mais nutritivos e saudáveis em relação aos condimentos industrializados.


Cabe salientar que todos os produtos desenvolvidos, são isentos de corantes e conservantes químicos e o prazo de validade de até seis meses durante o tempo em for conservado fora da geladeira.


PARA REFLEXÃO - Dentre os produtos florestais não madeireiros, nós acreditamos que a valorização dos frutos é um grande argumento capaz de produzir efeitos multiplicadores para manutenção da floresta em pé.

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